“A IA generativa está possibilitando que as empresas voltem a conversar com seus clientes individualmente”. Frases como esta dita pelo Diretor de Risco de Crédito e Modelagem do Grupo Itaú, André Martins, marcaram a quarta edição do Neurotrends, fórum de discussões criado pela Neurotech, uma empresa B3 especializada na criação de soluções avançadas de Inteligência Artificial e Big Data. O evento realizado nesta terça-feira (10) na Arena B3, em São Paulo, revelou as expectativas de alguns dos líderes dos segmentos de crédito, seguros e saúde a respeito da oportunidade de hiperpersonalização de produtos e serviços, mas também demonstrou uma preocupação com a necessidade de cuidado máximo com os desafios éticos que envolvem o uso da tecnologia.
O evento, que teve como tema “Tendências e desafios dos mercados de crédito, saúde e seguros: A nova fronteira da IA Generativa. Separando o hype do que já é realidade”, reuniu renomados especialistas em inovação nos três mercados. Ao todo foram realizados cinco painéis nos quais foram debatidas as implicações do avanço da IA Generativa em cada segmento.
Para o CEO da Neurotech, Domingos Monteiro, as discussões revelaram basicamente três constatações a respeito da IA generativa. “O primeiro fator é que a tecnologia já está à disposição e não é mais uma barreira. O segundo é que o consumidor está mudando e não aceita mais facilmente produtos e serviços que não estejam de acordo com seus desejos e necessidades. Finalmente existe o consenso de que os dados que esses consumidores geram podem ajudar a dar a experiência que eles querem com um forte apoio da IA generativa”, avaliou.
O Diretor Executivo de Crédito e Cobrança do Banco BV, Roberto Jabali, disse que a IA generativa tem possibilitado às empresas cada vez mais buscar insights para a segmentação de uma pessoa. “Nos últimos anos temos feito segmentação de grupos específicos, mas o ideal é ir reduzindo cada vez mais o tamanho desses grupos. A IA generativa caminha para permitir a redução ao menor tamanho possível que é o de uma única pessoa”, disse.
Apesar do entusiasmo, os debatedores não se esqueceram de alertar para a necessidade de cuidados no uso da tecnologia. De acordo com o Vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos do Banco do Brasil, Felipe Prince, o desafio ético em torno da IA generativa exige que as organizações treinem e remodelem sempre para que não haja agregação de preconceitos nos modelos porque isso tem potencial para derrubar instituições. “São novos riscos emergentes que a tecnologia nos traz, mas tudo está em nosso controle. Nada nasce se nós estivermos modelando corretamente”, disse.
No campo dos seguros, uma das impressões mais impactantes foi feita pelo Vice-presidente de Tecnologia, Operações, Transformação e Dados da Axa, Bruno Porte. Segundo ele, com a evolução da IA generativa, em cerca de 3 ou 4 anos provavelmente algumas das soluções das seguradoras talvez estejam embarcadas em um aplicativo existente no próprio carro do cliente porque aquele meio é muito mais conveniente para o usuário do que ele ter que baixar um aplicativo da seguradora em seu celular. “As seguradoras vão ter que entender que precisarão deixar de ser o sol, com todos os planetas girando ao seu redor, para ser apenas mais um planeta. Essa mudança vai acontecer a curto e médio prazo”, disse.
A respeito do impacto da IA generativa nas operações de financiamento veicular, o Sócio & Head de Veículos no C6 Bank, Ricardo Bonzo, disse que a IA vem para dar escalabilidade no sentido de que a indústria possa ampliar as operações tendo a certeza da segurança para barrar as investidas de fraudadores e outros problemas. “Só para ter uma ideia, cerca de R$ 45 milhões em fraude aplicadas na leitura de placas foram evitados com uma solução de IA da Neurotech”, disse.
O presidente da Omni, Heverton Peixoto revelou que neste segmento cerca de 25% dos contratos sofrem algum tipo de renegociação ao longo da sua vigência. “Nós conseguimos melhorar entre 12% a 15% o valor recebido a partir do momento em que conseguimos usar algoritmos com IA mais sofisticados”, disse.
Já na área da saúde, além do apoio no combate a fraudes e abusos, a IA generativa está sendo vista como uma ferramenta capaz de inverter a lógica do setor.
Para o Diretor Executivo de Mercado, Tecnologia e Inovação da Seguros Unimed, Wilson Leal, a grande revolução da IA é permitir que o setor passe finalmente a se preocupar em cuidar verdadeiramente da saúde e não da doença. Neste sentido, o Innovation Lead na Astrazeneca, Dante Lopes, afirmou que a IA traz a possibilidade de conseguir diagnósticos precoces ou cada vez mais precoces. “Existem processos que já permitem identificar a possibilidade de alguém ter uma doença 5 anos antes ou até 7 anos antes dela se manifestar”, disse.