Com a implementação da reforma tributária do consumo no Brasil, escritórios de contabilidade precisam revisar seus preços para se adequar à nova complexidade fiscal e garantir a sustentabilidade dos serviços. As mudanças trazem impactos na operação, exigem atualização tecnológica e afetam o tempo dedicado a cada cliente, o que torna essencial a reavaliação dos honorários cobrados.
A reforma, aprovada em 2023 e prevista para ser implementada entre 2026 e 2033, introduz os tributos CBS e IBS, substituindo PIS, Cofins, ICMS e ISS. Além da unificação, o novo sistema adota o modelo do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), exigindo maior controle sobre o fluxo de créditos e débitos, impactando diretamente as rotinas contábeis.
Com o novo modelo, os créditos tributários só poderão ser apropriados após o pagamento efetivo dos tributos na etapa anterior da cadeia. Esse fator exigirá que escritórios contábeis atualizem seus sistemas e processos para acompanhar as operações dos clientes em tempo real.
Além disso, a integração entre áreas como compras, vendas e financeiro se tornará ainda mais relevante para a apuração correta dos tributos. Isso significa mais tempo de análise, mais tecnologia e, consequentemente, mais custo operacional.
Segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o custo de adaptação aos novos sistemas pode variar de 0,5% a 2% da receita das empresas — impacto que também se reflete nos escritórios contábeis responsáveis pela conformidade fiscal.
A exigência de pagamento antecipado dos tributos e a posterior apropriação do crédito fiscal reduz a previsibilidade do fluxo de caixa das empresas. Estimativas da Febraban apontam que a imprevisibilidade pode alcançar até 15% no primeiro ano de transição.
Com isso, cresce a necessidade de planejamento tributário mais robusto, com projeções financeiras mais detalhadas e simulações de impacto. Esse tipo de serviço, muitas vezes classificado como assessoria ou contabilidade consultiva, demanda profissionais qualificados e maior dedicação.
A incidência dos tributos CBS e IBS "por fora" dos preços também altera a forma de apresentação das demonstrações financeiras. A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) pode precisar excluir esses tributos da linha de deduções, alterando indicadores como margem bruta e EBITDA.
Conforme o CPC 26 (IAS 1) e CPC 32 (IAS 12), será necessário divulgar em notas explicativas os critérios contábeis adotados, garantindo clareza aos usuários dos relatórios. Esse trabalho técnico adicional exige revisão constante das práticas contábeis e pode justificar ajustes nos preços dos serviços.
A possível extinção ou revisão de benefícios fiscais também exige análises de viabilidade de projetos, cálculo de impacto na margem e revisão de estratégias operacionais. Essa demanda implica maior dedicação da equipe contábil para avaliar ativos com base em critérios de impairment (recuperabilidade), conforme o CPC 01 (IAS 36).
Segundo estudo da Fiesp, a retirada de incentivos pode aumentar a carga tributária de setores como o agronegócio, tecnologia e infraestrutura, que dependem de renúncias fiscais para manter sua competitividade.
Com as alterações no fluxo de caixa e aumento das obrigações antecipadas, será necessário reavaliar o capital de giro dos clientes. Para isso, escritórios contábeis deverão fornecer análises detalhadas de fluxo de caixa e projeções de investimentos, com base em cenários tributários futuros.
Esse tipo de planejamento de longo prazo demanda conhecimento técnico aprofundado, maior interação com o cliente e ferramentas especializadas — fatores que justificam a revisão da estrutura de cobrança pelos serviços prestados.
Para manter a saúde financeira e a qualidade dos serviços, os escritórios precisam adotar uma precificação estratégica baseada em três pilares:
A definição dos novos preços precisa ser comunicada de forma clara e baseada em critérios objetivos. Clientes devem entender que o reajuste reflete não apenas o aumento de custos, mas também o aprimoramento do serviço prestado.
O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) não fixa tabela de preços, mas recomenda que os honorários reflitam o tempo técnico aplicado, a responsabilidade assumida e o valor estratégico do serviço.
Confira boas práticas para reajustar os preços dos serviços contábeis:
Assim como as empresas clientes, os próprios escritórios contábeis precisam revisar seus fluxos de caixa, investimentos em tecnologia e projeções de crescimento à luz da reforma.
Adequações em ERPs, treinamentos e reestruturação de processos internos devem ser incluídos no orçamento, reforçando a importância de uma estrutura de preços que assegure rentabilidade e competitividade.
Com a chegada da reforma tributária, o papel do contador será ainda mais estratégico, exigindo serviços de maior valor agregado. Ajustar os preços com base nesse novo contexto não é apenas uma medida necessária, mas também uma forma de garantir qualidade, conformidade e sustentabilidade para os escritórios contábeis.